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[O museu Darbot e outros mistérios]

Capa de Victor Giudice
152 páginas
1ª Edição - 1994
Leviatã Publicações

Contos:

O museu Darbot e outros mistérios

Prêmio Jabuti de 1995

Comentários Críticos

Wilson Martins, Jornal do Brasil-Caderno Idéias, julho de 1995
(...) Victor Giudice (O Museu Darbot e outros mistérios. Rio: Leviatã, 1994) renovou o conto, não só brasileiro, mas universal, ignorando, ao que parece, as mordidas estimulantes dos antecessores. é escritor de grande imaginação e técnica exemplar. O que dá título ao volume - para mencionar apenas este - pode integrar-se com vantagem na biblioteca do conto internacional, estruturado com extraordinária segurança e tornando verossímil uma história deliberadamente inverossímil. é conto desenvolvido em saltos peripeciais, surpreendendo o leitor e encaminhando-o para desenlaces imprevistos e imprevisíveis - tudo dentro do realismo mais perfeito. é também a sátira implacável do mundo em que as galerias de pintura, os comerciantes de quadros e os críticos de arte criam e promovem as imposturas capazes de render fortunas e instituir celebridades. Muitos críticos, daqueles que se extasiam pelo branco sobre branco, viram nos quadros de Darbot uma intenção religiosa, mas a glória internacional resultou de uma mistificação deliberada em que entraram negociantes de quadros, colecionadores japoneses, curadores de museu e peritos reputados. Nesse jogo desonesto, Darbot, invenção do narrador, acaba por se transformar no grande pintor desconhecido nascido na França em 1872 e cuja biografia misteriosa aumentava mais o interesse que despertou.

Daniela Name, O Globo, 1994
(...) Os contos de "O Museu Darbot" mostram situações cotidianas, quase banais - ponto de partida para uma crítica aguda da sociedade e da rotina. é assim em "A única vez", "As histórias que meu pai não contou" e "Relatividade em nome de Borges". Nos dois primeiros contos, Giudice fala do pai, que trabalhava em uma fábrica de chapéus em São Cristóvão e morreu quando o escritor tinha 16 anos. Filho único, Giudice foi trabalhar como bancário, tirando do convívio com a burocracia seus melhores personagens, como no conto "Jurisprudência", a história de um operário que passa 50 anos na cadeia por engano.
(...) A poetisa Suzana Vargas acredita que "O Museu Darbot" é um dos melhores livros do escritor, especialmente pelo conto que dá título ao livro e "O hotel", censurado pelo regime militar.
- O texto dele é tão bom que deve ser lido em voz alta. Aproxima o leitor, em vez de assustá-lo com divagações e uma linguagem obscura. Giudice sabe jogar com as palavras.
Outra meta de Giudice é a fluidez do texto, que muitas vezes consegue atingir a partir de seus conhecimentos de música erudita. No conto "Cavalos", ele utiliza a estrutura de uma sonata para conduzir a narrativa. A música também aparece em "A Criação: Efemérides", que reproduz a estrutura de uma ópera. A escritora Nélida Pinon acredita que a grande qualidade da obra é a capacidade de buscar referências em outras artes:
- Victor Giudice é um escritor contemporâneo completo. Sua obra tem nuances musicais e cinematográficas. Sua busca por uma linguagem mais simples só prova que ele deixou de ser um escritor de vanguarda para se tornar um mestre. Já é um clássico.

Paulo Amador
Nesse Museu Darbot, coleção de literatura da melhor qualidade, Victor Giudice testa as dificuldades da narrativa de arte. Mostra, antes de qualquer outra virtude, que para se escrever um bom conto é necessário que se conheça os segredos da boa linguagem. A que tenha a exatidão de um lead jornalístico, e seja concisa e transparente, como em A única vez. Primeira das nove estórias do livro, aí, a frase transmite a emoção de forma límpida, direta, exatamente como é pedido pela metáfora do conto, de espectro curtíssimo, no qual, em pouco mais que lauda e meia, expande-se uma história de 44 anos.
é necessária também a originalidade, o virtuosismo na utilização de adjetivos e, se possível, a erudição que surpreenda o leitor, como Giudice faz em A criação: efemérides, aventura musical em torno de um Oratório de Haydn. Embarcado num paradoxo e num dilema terrível, o leitor viaja da realidade de um quarto-e-sala na Tijuca, passando por Viena do século XVIII, pela "Estudantina", da Praça da República e por Lacan, até a virtualidade do Apocalipse, em uma danceteria em São Conrado. (...)
E finalmente, O Museu Darbot, a história de um blefe, onde o personagem se torna tão independente da ficção criada por Giudice, como Parsifal independera de Wagner. Narrativa em que o leitor é levado a meditar na irrelevância da verdade real, e na consistência da pura invenção.

Marina de Mello e Souza, Folha de São Paulo, outubro de 1994
Em O Museu Darbot e outros mistérios, de Victor Giudice, nota-se de cara a qualidade da prosa literária que ali vai, o bom uso que faz das palavras e imagens. Logo no primeiro conto, de uma página, a declaração da importância do pai e do seu Ford coupê 1946 verde-escuro deixa claro que há um narrador disposto a expor a si próprio. (...)
O pai, que de alguma forma nos diz que o narrador vai abrir seu coração, e o Ford, que sempre acompanha o pai, aparecerão outro vez no conto sobre o "hotel da Morte", intitulado A história que meu pai não contou, dos mais bem realizados do livro. (...)
O autor, que ao longo do livro vai aprimorando o fecho dos seus contos, escolheu o melhor de todos par terminá-lo e dar o título. O museu Darbot é o movimento mais complexo e mais longo deste livro marcado pela música.(...)

Carlos Emílio Corrêa Lima, Jornal do Brasil-Caderno Idéias, 1994
(...) Neste novo livro Victor Giudice consegue superar-se com a narrativa principal. O Museu Darbot é uma ficção estética (como na expressão ficção científica), não cabalística, sem volutas, de uma semifraude imaginária da história da arte: Jean-Baptiste Darbot, o mais avançado e transcendental pintor impressionista francês vivera e produzira (desmesuradamente) e morrera no Brasil em completo anonimato, precisamente no Rio de Janeiro da passagem do século 19 para o século 20, suas telas sendo descobertas muitos anos depois no porão da casa do avô do narrador, "na Rua Escobar, a poucos metros do Campo de São Cristóvão e da Quinta da Boa Vista". Este narrador é o mesmo menino já adulto, de tantas histórias de Giudice.(...)
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