| BIBLIOGRAFIA |
[Os banheiros]

Capa de Humberto Borém
140 páginas
1ª Edição - 1979
Editora Codecri

Contos:

  • Os Banheiros
  • O Visitante
  • A Lei do Silêncio
  • Miguel Covarrubra
  • Defesa Siciliana
  • Eles
  • O Crime de uma Noite de Verão
  • Os Balões
  • O Banquete
  • Mahablan
  • Narrativa do Número Um
  • O Dia em que Nossa Vizinha Enlouqueceu
  • A Última Ceia do Dr. Ordoñez

Os banheiros

Comentários Críticos

Caio Fernado Abreu, Veja, outubro de 1979
Em todo o livro, mantém-se inalterada a elegância de seu estilo e o virtuosismo com que manipula personagens e universos distintos.
O amor e seu extremo oposto - o ódio - ; a pureza infantil e a loucura; a morte, o desespero e a solidão são os sentimentos mais freqüentes deste mundo onde convivem, harmonicamente, figuras como um menino capaz de provocar a morte dos parentes quando solta balões coloridos, um pierrô que retira do próprio cérebro, com um punhal, duas esferas prateadas, ou um diretor de vendas que esquece de assassinar a esposa e o amante, distraído por uma partida de xadrez. Dos detalhes requintados, como cristais Dupont ou colheres de prata Sheffield (em O visitante) ao mórbido erotismo de Mahablan, sua linguagem é sempre impecável, culta e refinada. Mas é curioso que, apesar do cerebralismo e do humor negro que dão colorido às suas narrativas, Giudice se realize tão plenamente numa história simples como Os balões. Aqui, a poesia ultrapassa a secura, resultando numa pequena obra-prima.(...)
Neste tempo de diluição e oportunismo, Victor Giudice se afirma, definitivamente, como um dos nomes mais expressivos da ficção brasileira contemporânea.

Gastão de Holanda, Caderno B - Jornal do Brasil, outubro de 1979
Em Os banheiros, Victor Giudice mantém originalidade e exuberância de criação que, se não estão fora da nossa maturity of mind ou de nossa maturity of manners, não destoariam de uma comparação com que há de melhor na literatura estrangeira, representada por Borges, Cortázar ou em certo sentido com o conto eslavo, de língua indo-européia, de que se poderia citar um Karinthy.
Mas creio que não se deve fazer da obra de um escritor uma colcha de retalhos de influências. A obra de Victor Giudice tem uma forte personalidade, gravita na órbita da obra aberta, em que tem máxima importância "a congenialidade do público com o autor". Tipo de relação produtor-obra de arte-consumidor. Cito estruturas literárias como a de O banquete, de Giudice, de apenas quatro linhas, onde o leitor (perplexo) reconstrói passado e futuro do personagem, com beneplácito de Umberto Eco...
Não se poderia negar certo fascínio de Victor Giudice por Edgar Allan Poe ou Maupassant, quando se dedica ao conto de atmosfera gótica, como O visitante e Eles. Nesses contos, particularmente, o ilógico é tratado com linguagem de matemático, o que vem dar à narrativa maior força de expressão, embora a forma não se deixe dissolver na trama.(...) Por outras vezes o autor de Os banheiros é um aristocrata da forma, à maneira de um Visconti, no cinema. Para contar uma estória reconstitui um ambiente em que os mínimos pormenores - seja menção a porcelanas raras, seja a escritores ou compositores clássicos - são inventariados durante a montagem da fita datilográfica. O que não exclui uma boa dose de crítica social, à maneira do Miguel Covarrubra, conto que reconstitui toda uma heráldica brasileira armorial, arraigada à nossa história familiar saudosista.(...)

Elizabeth Lowe, Tribuna da Imprensa, outubro de 1979
Ao publicar este segundo livro, composto de doze contos e um fragmento de seu primeiro romance, Victor Giudice se coloca entre os maiores escritores brasileiros contemporâneos. Giudice já mantém reputação literária fora do Brasil: nos Estados Unidos sua obra já apareceu em tradução, suas histórias foram traduzidas também para o espanhol e o polonês. Em Bogotá, estudantes universitários escreveram ensaios críticos comparando-o a Borges.
Na verdade, as complexas estruturas narrativas de Victor Giudice e sua penetrante interpretação de temas transcendentais como o tempo, o amor e a morte atingem uma ressonância filosófica que o associa intimamente ao "fantástico metafísico" do mestre argentino. Da mesma forma que Borges, Giudice constrói mistérios metafísicos na linha da tradição latino-americana de ficção fantástica. Com seu cerebralismo, seu senso de humor seco e quase macabro, sua sintaxe elegante e sua cultura impecável, Giudice se identifica com Edgar Allan Poe e Ellery Queen, entre outros.
A grande sensibilidade e a destreza com que o tempo é manejado nesses relatos tornam a ficção giudiceana atemporal e universal. Alguns de seus principais protagonistas são intelectuais no estilo literário do século XIX, apreciadores de vinhos e alimentos sofisticados, antigüidades e música lírica, tal como os grandes connoisseurs. é ao lado dessa "universalidade" que Victor Giudice molda uma visão distintamente brasileira. Sua atenção e sua aguda ironia são dirigidas aos becos sem saídas das grandes cidades de seu país e sua irremediável solidão.(...)
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