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[O museu Darbot e outros mistérios]

José Olympio,
Editora, 1999

Projeto gráfico e capa: Luciana Mello & Monika Mayer

Fotos: Luiz Henrique Sombra


 

O Museu Darbot e outros mistérios
&
Do Catálogo de Flores


Comentários Críticos

Cadão Volpato - REVISTA ÉPOCA - 06/12/99

Suburbano e universal

Em romance póstumo, só agora publicado, Victor Giudice retomou com talento sua obsessão por São Cristóvão

O fluminense Victor Giudice escreveu seis livros. De todos, o que provocou maior impacto foi O Museu Darbot e Outros Mistérios, coletânea de contos publicada em 1994 e agora reeditada pela José Olympio com um adendo precioso, um romance póstumo inacabado e inédito, Do Catálogo de Flores. Giudice é amado no Rio de Janeiro, onde viveu, cenário permanente de suas histórias. Ainda que seus livros cantem a cidade - mais exatamente o bairro de São Cristóvão, na Zona Norte carioca -, é um autor de estatura universal. Com estilo elegante e preciso, despido de enfeites e profundamente natural, ele conduz narrativas que lembram Franz Kafka e Jorge Luis Borges - caso eles tivessem vivido no velho bairro de São Cristóvão.

Giudice foi crítico de música clássica do Jornal do Brasil. Os contos de O Museu Darbot transpiram essa erudição musical. Wagner, Mahler, Bruckner, Haydn são citados com desembaraço por um narrador que parece sempre ele mesmo, Victor Giudice, um melômano-literato. A música, a geografia e os tipos de São Cristóvão ajudam a compor a atmosfera típica do escritor carioca, que também se vale de certo surrealismo muito em voga nos anos 70, quando seus primeiros livros foram publicados. Mas nem citações eruditas, toques fantásticos e fronteiras da Zona Norte conseguem limitar a obra desse autor incomum.

Basta a leitura do primeiro conto de O Museu Darbot, "A Única Vez". Em apenas uma página, ele junta a atmosfera antiga de São Cristóvão a delicadas lembranças paternas e um desenlace fantástico para sair-se com um texto comovente e ao mesmo intrigante - uma pequena obra-prima. Em outros momentos, O Museu Darbot deixa transparecer relatos de cunho mais kafkiano, como em "O Hotel", em que Giudice fala de uma estranha hospedaria na qual as pessoas se internam para seus momentos finais. O melhor do livro, no entanto, está no conto-título, uma narrativa borgiana com deliciosa biografia toda inventada - a história de um pintor francês que teria morado na Zona Norte do Rio no começo do século e se transformou em celebridade internacional graças a uma fraude sutil, que convém descobrir na leitura do conto. Suspense, aliás, é um importante ingrediente nas saborosas narrativas do escritor.
[Alto da Página]
Giudice escrevia o romance Do Catálogo de Flores quando foi acometido pela doença que o mataria cerca de um ano e meio depois. Não conseguiu finalizá-lo, mas sua publicação traz à luz tanto o estilo impecável quanto as idiossincrasias do autor. São apenas quatro capítulos de uma história misteriosa, uma surpreendente ficção científica. Ao colocar em ação um septuagenário escritor brasileiro às voltas com uma trama rocambolesca numa Londres do começo do século XXI, Giudice consegue desencavar velhas obsessões, incluindo a geografia de um certo bairro do Rio. O romance, que vem com anotações precisas do autor a respeito do desenvolvimento da história, é uma espécie de catálogo do universo ficcional de Victor Giudice, um autor cultuado por poucos que merece ser lido por muitos.


Salim Miguel – escritor e jornalista
Jornal A Notícia – Santa Catarina 13/04/2000

(...) Saudamos com o maior entusiasmo esta iniciativa da tradicional editora carioca, ao recuperar não apenas alguns contos, mas também o romance inacabado. Giudice deixara algumas anotações do livro no qual vinha trabalhando - e foi com este material que amigos dele procuraram recuperar, não o romance que ele certamente escreveria, mas um texto (em especial a parte final) próximo do que ele certamente faria. Mário Pontes diz, com carradas de razão, no texto introdutório, que Victor foi "um dos escritores mais tipicamente cariocas, da segunda metade deste século". E a análise que Mário, outro excelente crítico, ficcionista e tradutor, faz, é em tudo pertinente, lúcida, atenta à escrita de Victor Giudice. Também elucidativo sobre a personalidade do escritor é o texto de Carlos Alberto Mattos, significativamente intitulado "Victor Giudice e seus Mistérios". Ele diz: "A convivência do intelectual de gosto requintado com o homem simples e popular era um dos traços característicos de Giudice. Ele tinha laços de amizade e longas conversas com artistas e escritores, assim como com guardadores de carro, o seu lanterneiro de Irajá, porteiros de prédios, etc." Segundo o mesmo autor, Giudice declarou certa vez: "Meus personagens circulam por um espaço geográfico conhecido, mas o fazem rodeados de alegorias."
[Alto da Página]