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[Sétimo punhal]

Capa de Floriano de Almeida
164 páginas
1ª Edição - 1995
2ª Edição - 2002

José Olympio Editora

O sétimo punhal

Comentários Críticos

Suzana Vargas
Segundo os grandes autores e os raros nomes relevantes da crítica literária, a essência da ficção consiste em sabermos contar uma boa história.(...) Atento a essa fórmula tão antiga quanto pouco utilizada nos dias de hoje, Victor Giudice nos apresenta em O sétimo punhal (...) uma história milagrosamente transparente, reflexiva, erótica, curiosa e que nos mantém em suspense durante suas cento e sessenta e três páginas.
Victor privilegia a aventura humana, notadamente feminina, contando-nos a saga de uma família petropolitana e utilizando-se de outros espaços: São Cristóvão, Tijuca.(...)

J.C. Ismael, Jornal da Tarde (Caderno de Sábado), fevereiro de 1996
Ao contrário da maioria dos contos de Giudice, o fantástico passa longe de O sétimo punhal. Desta vez ele fala de pessoas reais e banais, e do seu cotidiano, não menos colorido. Mas, se por causa disso ele nos horroriza ou não, é outro problema. O leitor que tire as próprias conclusões. Ao escritor cumpre dar aos fatos (e às personagens neles envolvidas) um tratamento literário competente. E isso Giudice faz com maestria. (...) O autor pode ter pretendido fazer deste homem e desta mulher anônimos uma metáfora daquilo em que o amor quase sempre se transforma: uma carga insuportável de ressentimento, desprezo e ódio, registradas friamente nas terríveis cenas de casamento. É lugar comum, mas inescapável dizer que a história é menos importante para a literatura do que a maneira como é contada, o exemplo notável ficando por conta de Ulysses, de James Joyce. Este curto romance conta uma história de dolorosa banalidade, mas o faz com tal maestria que, quanto mais banal fica, mais nos deixamos envolver pela maneira como é contada.

Daniela Name, O Globo, março de 1996
Quem conhece o Giudice contista sabe que o suspense sempre fez parte da obra do escritor. Sabe também que, sob sua batuta, o mistério nunca é banal. Em O sétimo punhal, ele é decifrado - e ao mesmo tempo ampliado - por Julia Samaritana de Almeida Negresco, ou simplesmente Negra, amiga de infância da narradora. Chega sob a capa do erotismo e é costurado por uma linguagem afiada, que dá o tempo exato para cada detalhe. Giudice apimenta os assassinatos com a insinuação de um triângulo amoroso sinistro e avassalador. Amor e sangue têm a sofisticação e a grandiosidade da ópera e fazem a trama de O sétimo punhal exigir a mesma atenção irrestrita que Negra dá às notas de Parsifal. Sem ela, não é possível seguir as estradas que a imaginação de Giudice faz questão de devastar, fugindo dos caminhos previsíveis. (...) O encantamento de seu novo romance vem de ingredientes explorados à exaustão em seus contos. O sétimo punhal representa, por exemplo, o inusitado que nasce do cotidiano, das relações de família e dos casos amorosos.(...) Também volta a fazer de São Cristóvão seu grande sertão particular. A crônica enviesada do bairro de sua infância, feita nas entrelinhas, já virou marca registrada. E comprova que o bom escritor é o que sabe compartilhar suas maiores experiências.

Celina Cortes, Jornal do Brasil, fevereiro de 1996
O sétimo punhal não é exatamente um policial, mas tem um clima de suspense que prende o leitor da primeira à última página. "Nossa vida é uma história policial. Todos vivemos nos equilibrando em cima do mistério. Temos nossos segredos e pequenos crimes perfeitos", provoca o autor.(...) A intenção de Giudice é criar uma história de suspense que, ao mesmo tempo, evidencie a deteriorização do relacionamento entre marido e mulher. Parar o escritor, seu romance faz uma crítica da sociedade moderna. "Hoje em dia, quase todo casamento acaba se transformando numa preocupação em curar feridas", afirma.

Paulo Amador, Jornal do Brasil (Caderno Idéias), março de 1996
Em O sétimo punhal, Victor Giudice faz uso abundante de alguns dos ingredientes que definem a história de crime e detecção. Há um misterioso Monza cinzento, rodando em hora deserta num ladeira da Tijuca, e instrumentando um atropelamento. Uma coleção de punhais, feitos muito mais da essência das metáforas que do aço cortante. Uma personagem-narradora, atormentada pelo suspeita de estar vivendo, portas adentro, com um serial killer. Uma investigação, procedida por ela mesma, em meio a um doloroso processo de purgação de antigos pecados da juventude. Mas, acima de tudo isso - crime, agente instrumento, motivo e oportunidade - a presença do autor, que tem sido repetidamente apontado como habilíssimo construtor de histórias de crime e mistério. (...) É muito bom para o leitor deste O sétimo punhal, que Victor Giudice tenha optado por esse deslocamento de eixo temático, do crime para a tragédia amorosa, realizando um livro que se inscreve imediatamente na grande tradição do romance urbano carioca. Ao optar pela paixão, em lugar do crime, afastou-se deliberadamente do gênero policial (uma das regras de Van Dine, a de número três, diz que o verdadeiro romance de detecção deve estar isento de toda intriga amorosa). E pôde, então, com habilidade, e liberto das limitações formais cobradas ao criminal, testar em mais esta obra as dificuldades da narrativa de arte. Mostrar que para se escrever um bom romance é necessário que se conheçam os segredos da boa linguagem. (...) Mas, além do texto, O sétimo punhal também envolve pelo virtuosismo da trama, habilmente costurada num fluxo de evocações da heroína para a criação do suspense, e remetendo o leitor inexoravelmente à leitura do capítulo seguinte. Pela utilização contrapontística de um repertório de conhecimentos de música erudita, e pela decifração dos arcanos do crime, através do tarô.

Mario Pontes, Rio Artes número 21, 1996
Falar de amadurecimento no caso de Giudice não é repetir um velho clichê, mas fazer a necessária constatação de que ele se supera a cada livro; como inventor de enredos; e como o narrador que, pagando apenas um pequeno tributo à metaliteratura, usa com crescente consciência os mais comprovados recursos da arte de contar uma história com sentido e coerência, interessante e prazerosa ao seu leitor. (...) Intrigas, cadáveres, coincidências, "red herrings", punhais, venenos, traições, carros que atropelam nas sombras da noite e o "leit motiv" da lança de Parsifal emergindo aqui e ali do subsolo do conto: por que tudo isso não resulta em um romance policial propriamente dito? Primeiro, porque as exigências artísticas de Giudice abafam o canto da sereia do mero "thriller", cada vez mais temperado com a pimenta do horror e o tomate seco do esoterismo de carregação. Segundo, porque o fino humor de Giudice se sentiria prisioneiro nas regras de uma história policial clássica. Desse modo, o que se tem para revelar na cena da biblioteca é o seguinte: a nova ficção de Victor Giudice é ao mesmo tempo um romance criminal que se sustenta pelo bom uso dos instrumentos narrativos apropriados, e uma comédia dramática para poltrona, uísque, salgadinhos e chinelos, essa especial criação dos céticos, esse "divertimento" em que as razões para chorar e para rir são equivalentes e permutáveis.
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