Capa de Victor Giudice
156 páginas
1ª Edição - 1989
José Olympio Editora
Contos:
- As três marias
- Bolívar
- Minha mãe
- Triângulo escaleno
- Bodas de Ouro
- O homem geográfico
- Cumplicidade
- O último camarão da noite
- O segredo de Suzana
- Salvador janta no Lamas
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Salvador janta no Lamas
O melhor da ficção - Prêmio da APCA de 1989
Comentários Críticos
Carlos Alberto de Mattos
(...) Seu refinado senso de observação do cotidiano manifesta-se em descrições apaixonantes, pontuadas por cintilações de ironia e clarões de emoção. De olhos bem abertos, o leitor terá muito com o que sonhar: alucinações urbanas, pequenas tragédias burguesas, traições, subterrâneos familiares, perplexidade de criança, enigmas de mulher. (aliás, curiosamente, sete de seus contos têm mulheres como narradoras). Tudo aqui e agora, em perfeita sintonia com a visualidade de nosso tempo.
Autor de intensa criatividade, seus textos traduzem um indiscutível domínios das narrativas. Trata-se de um verdadeiro artífice da palavra - na linha de um Cortázar - atento às mais profundas transformações de nosso dia-a-dia. (...)
Para o crítico e poeta Mauro Gama, "Giudice tem o feitiço da arte de narrar e informa-o, enriquece-o com um espírito requintado, de fervorosa convivência com o mundo da filosofia, da música, das artes.
Mario Pontes, Jornal do Brasil, 1989
(...) o Rio de Victor Giudice é um negativo fotográfico de qualquer grande cidade do mundo contemporâneo. Também pela temática, esta é uma ficção que tende para o universal. Ela trata dos pecados capitais e veniais da humanidade. Do ódio e da ambição, da inveja e da culpa, da exacerbação ou da morte do desejo. E de tudo isso trata freqüentemente em nível de abstração, de filosofia expressa em aforismos, de considerações o mais das vezes cínicas e cruéis sobre os enganos e as tolices da espécie humana.
Volta e meia, porém, a História se insinua no mundo interiorizado dos contos de Victor Giudice. Quando menos se espera, uma data abre as portas dos apartamentos, escritórios e motéis onde se encerram os personagens e torna-se decisiva para o significado da narrativa. Assim, quando se chega ao final da leitura, é impossível não ver nesse conjunto de dramas e tragicomédias um retrato em ponto pequeno da sociedade do Rio de Janeiro pós-milagre econômico, o do final dos anos 70 e desta década de que estamos quase a nos despedir.
Artur Araujo, última Hora-Revista, abril de 1989
(...) São elementos constantes no livro: a música, o misticismo, a condição da mulher e a utilização do espaço geográfico da cidade do Rio como elemento dramático. A música em Salvador janta no Lamas é uma substância constante mas discreta, desempenha, musicalmente falando, o papel de "baixo contínuo", um recurso que, apesar de discreto, é intermitente e sublinha determinados momentos de texto, como no conto Minha mãe, onde uma ária da ópera Orfeu tem um inegável valor dramático.
O misticismo é um dado forte no livro. Podemos senti-lo já no título. As palavras "salvador" e "Lamas" possuem uma inerente evocação mística. Da mesma forma, é possível pressenti-lo na capa com a foto de duas cartas de tarô e alguns elementos referidos no conto. O misticismo pode ainda ser captado no conto O homem geográfico tanto pelo seu aspecto fantástico, quanto cíclico, além da referência à Nona Sinfonia de Gustav Mahler. (...)
A condição da mulher é também um objeto constante na prosa de Salvador janta no Lamas. Com exceção de O homem geográfico e do conto que dá título ao livro, todos os demais preocupam-se em mostrar a mulher oprimida e sua luta para emancipar-se desta opressão. (...)
O autor declara que constrói seus personagens a partir da reunião de observações cotidianas. Seus personagens seriam verdadeiros vitrôs ontológicos: "na literatura, o mais importante é fazer com que o leitor procure se identificar com o personagem", diz ele. Da mesma forma, o processo criativo de Victor Giudice surge de frases e idéias simples que, manipuladas pela mente do artista, transformam-se em enredos de forte impacto descritivo, quase cinematográficos. (...)
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