[O dia cura todas as feridas da alma.]

[Autógrafo]
[Victor Giudice]



Se você conheceu ou foi amigo de Victor Giudice, aperte o botão e dê um breve depoimento sobre ele:


FRIENDS (4)


Um elenco numeroso e devotado de amigos foi o maior patrimônio acumulado por Victor Giudice. Ele sabia cultivá-los com generosidade, imperturbável bom humor e um talento extraordinário para contar histórias e transformar o cotidiano num permanente exercício da espirituosidade e da inteligência.
Aqui estão alguns depoimentos de amigos e conhecidos sobre a convivência com Victor. Esta página será atualizada periodicamente, incorporando novas contribuições (veja botão à esquerda).


Com o Victor Giudice vivi uma experiência bizarra. Imaginem que fui chefe dele! Quando penso nisto, chego a me arrepiar. No dia da entrevista para sua admissão no quadro de redatores da Informação Semanal, publicação especializada em comércio exterior editada pela CACEX/CEPEX, onde ambos trabalhamos juntos no Banco do Brasil, fiquei bastante apreensivo. Só pensava em uma coisa: Como é que a gente faz para induzir uma personalidade como a do Victor a trabalhar em tarefas rotineiras? Como é que se chefia verbete de enciclopédia? Ao fim e ao cabo, aquilo que eu achava que seria uma pedreira revelou-se missão muito amena, pois o Victor demonstrou, dentre as muitas qualidades que possuía, ser uma pessoa extremamente disciplinada e permanentemente pronta para colaborar com seus colegas. Claro que a criatividade não pode ser engessada e, como o Victor estava perenemente em estado de fermentação criativa, concessões tiveram de ser-lhe feitas. Só que essas minhas transgressões acabaram redundando em proveito da coletividade, pois o Victor conseguiu com genialidade e histrionismo, usar sua liberdade para criar e manter um clima de tamanha descontração na redação que a produtividade do grupo foi para a estratosfera. Contudo, não obstante o Victor parecer sentir-se muito no seu à vontade na restrição do ambiente de trabalho, com horários, tarefas, dead lines e o escambau, no fundo, no fundo sempre que eu olhava para ele via um transatlântico em um bidê.

Henrique Morais - Rio


Eu tinha uns dez anos, se não me engano, quando conheci o Victor, por intermédio da Renata, sua filha. Quase criança, meu programa obrigatório de depois da escola era ir ao apartamento da José Higino, onde, por uma coincidência felicíssima para mim, morava o Victor, que inicialmente era só o pai da Renata e do Maurício. Guardo dessa época a imagem de um mágico encantando adultos e adolescentes com sua genialidade, doçura e disponibilidade. O fascínio que o Victor demonstrava pelas coisas - pela música, pelo cinema, pela comida, às vezes por uma bobeira qualquer - e pelas pessoas era proporcional ao fascínio que provocava. Sua generosidade, seu senso de humor e seu espírito infantil e refinado deixavam qualquer um extasiado. Tenho até hoje uma fita dos Beatles que o Victor gravou para mim - a fita não toca mais há muito tempo, mas toda vez que eu olho pra ela eu vejo o Victor cantando Beatles com cara de criança feliz. Eu vou contar uma coisa pra vocês, mas vocês não contem pra NINGUÉM: ele não sabia, não sei se alguém sabia, não sei por que eu morria de vergonha de dizer isso, mas com pouco tempo de convívio o Victor deixou de ser só o pai da Renata e do Maurício para ser um pai-em-segredo para mim. Para mim, ele era um pai-mágico. Ele não sabia, não sei se alguém sabia, e eu não tenho mais a menor vergonha de dizer: o fato de tê-lo conhecido (como, de resto, o de ter conhecido toda a sua família) alterou tudo em minha vida. Até hoje, há coisas que eu faço e penso determinadas por coisas que ouvi o Victor dizer, na minha quase-infância. Posteriormente, depois de devorar seus livros com fervor, pensei: o Victor fabricava diariamente centenas de esferas de prata com a força da imaginação, e não parecia fazer a menor força para isso. (Obs.: Eu perdi em uma mudança Necrológio e Os banheiros. Quem souber onde posso encontrar essas preciosidades, por favor mande um e-mail para andreia@fgv.br, ou para asjg@rio.nutecnet.com.br)

Andréia M. Silveira - Rio


Vínhamos, o Victor e eu, caminhando pela Rua do Ouvidor, atravancada por inúmeros camelôs, pedintes, cegos, pregoeiros em todos os tons, afora os buracos, a lama, os triciclos e carros de mão, na mão e na contra-mão, quando o homenageado deste site falou entre dentes: - Isto aqui, para ser uma rua de Calcutá só faltam as vacas. Nisso, ao nosso lado levantou-se uma voz de um vendedor de loterias: - Olha a vaca prá hoje!
Aí, o Victor: - Agora, não falta nada.

Trajano Valpassos - Rio


Conheci Victor Giudice quando eu ainda era bem garoto, com uns 10 anos talvez, numa daquelas tardes em que eu passava desenhando ao lado de meu pai - Lauro Gomes, seu colega - no Banco do Brasil. Com todo seu conhecimento artístico o Victor já analisava meus desenhos, me dando valiosas dicas. Acabou me presenteando com um exemplar da "Heavy Metal", uma ótima revista de quadrinhos americana, com desenhos incriveis. Fiquei muito contente e a tenho até hoje.
Muitos anos depois - talvez uns 14 anos mais tarde - eu o procurei, inseguro, na Faculdade Helio Alonso, com meu portfolio debaixo do braço, em busca de seu olho clínico para o meu trabalho. O aval do Victor seria e foi decisivo para mim, que iniciava a vida profissional como desenhista caricaturista. Foi ele um dos que mais me deram ânimo e estímulo para seguir meu caminho. Hoje, vários anos a frente, como designer e muito satisfeito, não posso me esquecer da frase que ouvi dele aquele dia: "Você vai longe, rapaz!"
E fui.
Obrigado Victor!

André Xavier - Niterói


Comecei a "ver" o Victor entre 1939 e 1940, quando tornei-me seu vizinho, ao nos mudarmos para o térreo de um edifício na rua General Bruce e, em nosso caso, com entrada independente pela travessa Amarante. Tinha eu na época de quatro a cinco anos. Victor era um pouco mais velho. Nossa afinidade na ocasião, além de filhos únicos, agravou-se por sermos "diferentes" do resto da molecada, isto é, gorduchos e, portanto, alvos ideais para zombarias e apelidos então em voga: Bolão do Vasco, Chico Bóia, Banha Rosa e assemelhados.
Reencontramo-nos cerca de 1950, no Colégio Brasileiro. O pai de Victor havia falecido recentemente e ele voltara de Macaé, com sua mãe e tia, já a trabalhar à tarde no Banco do Canadá, para complementar o sustento de sua família. Aflorou, então, de maneira espontânea, nossa segunda e grande afinidade, que nos acompanharia durante toda a nossa relação de amizade: A Música e o universo fascinante e fantasioso dos Músicos.
Reuníamos em minha casa ou na dele, moendo e remoendo os velhos 78 RPM's e os primeiros LP's. que conseguíamos obter. Foi assim que ficamos íntimos de diversos "companheiros", com os quais iríamos coabitar durante todos esses anos: Mengelberg, Koussevitzy, Toscanini, Stokovski, Talich, Furtwangler,Fiedler, Horowitz, Heifetz, Oistrak, Sayão,Gigli, Dieskau, Wunderlich..... Ao mesmo tempo, o contato pessoal com as idas aos concertos e recitais: Brailovsky, Iturbi, Rubinstein, Firkusny, Serebriakov, Pressler, Novaes, Rostropovich, Kleiber, Bernstein, Mitropoulos, Stravinsky, Kletzki, Schwartzkopf, Norman, K.& M. Labeque ( o último concerto que assistimos juntos ).
Embora nossas caminhos profissionais tenham tomado rumos diferentes e fatores de natural afastamento - tais como casamentos, filhos, descasamentos e outros - tivessem inevitavelmente ocorrido, nunca deixamos de nos encontrar para a apreciação de uma nova obra ou interpretação para nós desconhecida, não deixando de lado, todavia, nessas ocasiões, os acontecimentos do momento, incluindo eventos culturais e mesmo da política, sempre apreciados através da sua peculiar sensibilidade e tendo ao fundo calorosa hospitalidade, onde se encaixavam, magnificamente, requintados vinhos, queijos, salames e outras iguarias. Julgo interessante declarar que embora privasse com Victor uma intimidade praticamente sem restrições, pouco tenho a dizer sobre sua carreira de escritor, uma vez que, por razão que desconheço, nunca falamos sobre sua própria criação literária em nossos inúmeros encontros e discussões.
Não posso deixar de relatar um pungente acontecimento ocorrido em 1988, quando da prematura morte de minha filha Paula em seus 17 anos: Ao final da Missa de 30º dia de seu falecimento, tive de controlar todas as minhas forças e emoções, para consolar a dor e os prantos do meu querido amigo.
Por fim, a longa enfermidade, quando sua vasta cultura e capacidade de expressão foram gradativamente e inexoravelmente se extinguindo, para tristeza de seus inúmeros amigos e admiradores. Em nossa idade, já se torna impossível, com a incontrolável passagem do tempo, preencher as lacunas causadas pelo desaparecimento de pessoas como Victor, situação agravada pela saída de cena de outros personagens e parentes que tambem tiveram importante papel em nossas vidas: D. Nalinha, D. Elza, Zoló, Norma, Adriano, Maria Emilia, Claudio, Wolfe, Manoel....
Obrigado por tudo, velho companheiro!

Carlos Lafayette Barcellos - Rio


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