Lugar comum
Lugar comum é quando a gente quer
falar e não consegue,
é quando a gente segue e fala sem querer,
sem conseguir dizer o que não quis falar.
Lugar comum é quando a gente diz
que a rosa é uma beleza
e vê vazia a mesa onde se vai comer,
onde se vai beber para depois se amar.
Lugar comum é quando a gente escuta
um sonho mal dormido,
é quando a gente luta um dia indefinido,
pra logo se voltar ao primeiro lugar.
Lugar comum é quando a gente cala
achando que o silêncio
é bem melhor que a fala e não se vence o medo
que atrapalha os passos e não deixa andar.
Lugar comum é quando a gente pensa
que está pensando
e passa a vida toda sempre se aceitando.
sem se mirar no espelho pra se imaginar.
Lugar comum é quando a gente dá
boa-noite ou dá bom-dia,
fazendo a meia-noite igual ao meio-dia,
marchando sem caminho pra nunca chegar.
Lugar comum é quando a gente trama
a morte da verdade
e vive sorridente em meio à falsidade,
para esquecer a sorte e só lembrar o azar.
Lugar comum é quando a gente morre
e não corre pra vida,
ou quando a gente sofre, a alma dolorida,
por não gritar na hora feita pra gritar.
Lugar comum é quando não se quer,
quando não se consegue,
é quando não se vê,
é quando não se segue,
ou quando não se tem o que falar.
Lugar comum é quando não se escuta,
é quando não se bebe,
é quando não se come,
é quando não se luta,
ou quando não se vive pra se amar.
Lugar comum é quando a gente cala,
é quando não se pensa,
é quando não se fala,
é quando não se vence,
quando o medo não deixa a gente andar.
Lugar comum é quando a gente morre,
é quando não se trama,
é quando a gente corre,
é quando não se ama,
quando se esquece a hora de gritar.
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Faz muito tempo que a minha marmita
vem causando espanto,
pois bem no canto da batata inglesa
surgiu quase de surpresa uma teia de aranha.
(Veja você que coisa estranha!)
Minha patroa amarrou a cara
com toda razão,
diante da desmoralização
deste inseto repelente a um operário exemplar.
(Que aracnídeo mais vulgar!)
Há uma semana o feijão com arroz
virou pastel de nada.
E a marmelada, que era sobremesa,
deu sumiço, que tristeza, achou de desertar.
(eu vou perder o paladar!)
Minha marmita está virando estojo
de jóia no penhor:
seda por fora, veludo por dentro,
mas no centro está vazia e cheia de bolor.
Não sou gourmet,
não entendo de cozinha,
troco pato por galinha,
feijoada por morfina,
estricnina por maçã.
Ninguém me vê
sofrendo de indigestão.
Não sei o que é mastigação,
uso a língua pra estampilha
ou pastilha de hortelã.
Não sou você,
que vive de barriga cheia,
recusa bife de baleia,
mas na ceia se lambuza
de Boccuse a Savarin.
Meu abc
só tem o jota de jejum,
lá no serviço eu sou mais um
que não vadia, noite e dia,
e se angustia pelo osso
do almoço de amanhã.
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