Extraído da apostila A música sinfônica e seu significado no civilização ocidental
(...) O interesse pela música erudita, em especial a sinfônica, surge quase sempre de uma informação indireta. No cinema, quando determinada peça serve de trilha sonora, é possível que um espectador mais sensível se interesse mais pela música do que pelo filme em si. (...)
No meu caso, o interesse se manifestou por volta dos oito anos de idade, enquanto assistia aos seriados da Republic. Na época, década de quarenta, por falta de trilhas compostas especialmente, o cinema se valia de peças sinfônicas já consagradas, como a Quinta sinfonia de Beethoven, o poema sinfônico Os prelúdios, de Liszt, a abertura do Parsifal, de Wagner (na célebre Paixão de Oberamergau), etc. Até hoje, não consigo ouvir a Música da Sexta-Feira Santa, do Parsifal, sem me lembrar dos passinhos miúdos de Cristo e de Pilatos, na Paixão de Oberamergau, exibida todos os anos no Cine São Cristóvão, durante a Semana Santa. Mas foi assim que Wagner entrou em minha vida. A Rádio Ministério da Educação deu continuidade ao processo, juntamente com os concertos do Cinema Rex, onde o Maestro Eleazar de Carvalho se encarregava não só da música, mas também da didática, à frente de uma heróica Sinfônica Brasileira. Foi lá, nas manhãs de domingo, que eu conheci Beethoven, Carlos Gomes, Berlioz, Lorenzo Fernandez, Tchaikovski, Rossini, Mozart, Rimski-Korsakov e Aaron Copland. Sem falar em Benjamin Britten, cujo Guia dos jovens para a orquestra tornou-se um acontecimento à parte. Trocando em miúdos, a coisa funciona mais ou menos assim: o ouvinte sensível recebe a informação musical e se fixa nela. No caso dos seriados, eu torcia para que surgisse alguma pancadaria, porque a confusão seria fatalmente premiada com Os prelúdios de Liszt. é interessante assinalar-se a atração que os organizadores de trilhas sonoras sentiam por esse poema sinfônico. A segunda versão do Ben Hur, de 1926, foi sonorizada com essa peça. Diga-se de passagem que, na época, eu nunca tinha ouvido falar em Liszt. Até que um dia, ganhei de presente o álbum de discos com Os prelúdios. Dois bolachões de 78 rotações. Com o álbum, eu aprendi que a música era executada pela Orquestra Sinfônica da Filadélfia e que o nome do maestro era Eugene Ormandy.(...)