[O dia cura todas as feridas da alma.]

[Autógrafo]
[Victor Giudice]



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OS AMIGOS (5)


Um elenco numeroso e devotado de amigos foi o maior patrimônio acumulado por Victor Giudice. Ele sabia cultivá-los com generosidade, imperturbável bom humor e um talento extraordinário para contar histórias e transformar o cotidiano num permanente exercício da espirituosidade e da inteligência.
Aqui estão alguns depoimentos de amigos e conhecidos sobre a convivência com Victor. Esta página será atualizada periodicamente, incorporando novas contribuições (veja botão à esquerda).


Lembro-me sempre de Victor Giudice, particularmente em algumas situações mágicas.
Emoção e espanto se apoderaram de mim, em certa ocasião, ao ouvi-lo ler o conto A ÚNICA VEZ. Victor sabia, como ninguém, transformar a leitura em imagem viva. Seu pai, personagem do conto, apareceu-me inteiro à frente, ignorando a sala de palestras do Centro Cultural Banco do Brasil, e trouxe consigo meu pai, recém-falecido à época.
Em outro momento, deliciei-me ao vê-lo conversar com meus alunos do Colégio Pedro II. Respondia com generosa paciência a todas as perguntas dos adolescentes, que haviam lido alguns de seus textos. Prendia-lhes a atenção por quase três horas, a falar do processo de criação literária, de forma simples e empolgante. Os meninos, quase sempre tão inquietos, ignoravam o sinal que já anunciara a hora do recreio.
Por várias vezes, encantei-me com seu jeito de contar casos (quem saberá quais os verdadeiros, quais os inventados?) nas mais diversas circunstâncias: numa reunião informal, ou à mesa de um restaurante, ou ao volante do carro... Naqueles momentos, Victor conduzia seus amigos para algum lugar à noite, à volta de uma fogueira. E recuperava para eles o prazer primitivo e fundamental de ouvir histórias e imaginar outras realidades.

Lena Jesus Ponte - Rio


Entrei em contato com a obra de Giudice no fim de meu mestrado, no início dos 90. Ele era então professor de meu marido na Hélio Alonso e acabei lendo um conto seu e ficando absolutamente encantada. Mais tarde, ficamos amigos e um dos momentos mais bonitos de minha vida foi um domingo ensolarado em que Victor veio a meu apartamento em Santa Teresa para me apresentar o seu recém lançado O Museu Darbot e acabou lendo emocionado as mais de trinta páginas do conto de mesmo título, que considero um dos maiores momentos da literatura brasileira de todos os tempos. Foi um momento inesquecível. Victor não era apenas um escritor genial, mas um narrador singular, com suas estórias de vida, capazes de nos entreter por muitas e muitas horas. Hoje, oriento uma tese sobre o Museu Darbot e me sinto muito feliz de ter tido a oportunidade de conhecer aquele que considero um dos maiores escritores da literatura contemporânea e de ter a chance de poder contribuir de alguma forma para que seu nome brilhe na memória e na história.

Tereza Virginia - Palo Alto, USA.


Conheci Victor rapidamente na casa da minha avó "Marita Del Giudice" em Belo Horizonte, mas pelo curto período em que estivemos juntos, ele foi capaz em influenciar minha vida de certa forma e de demonstrar a vocação que a familia Del Giudice tem para as artes, letras e música.

Naquele dia ouvi ele tocar o piano e um tempo depois recebi de presente uma fita cassete com músicas de "Mussorgsky" cantadas por "Paata Burchuladze" esta fita influenciou de certa forma minha presençaa já há 8 anos em Moscou, na Rússia, onde vivo, trabalho e hoje estou casado com uma russa!
Saudades do Victor! do parente distante...

                          Andre Del Giudice Santos - Moscou, Rússia


Conheci Victor através de sua tia Elza e de sua irmã Dona “Nalinha”, conforme eu chamava naquele tempo a Dona Mariannalia. Inicialmente, pensei que Dona Elza fosse sua mãe; só algum tempo depois soube que, na realidade, ele gostava das duas como mães. Eu comecei aprender a tocar piano aos nove ou dez anos de idade (não me lembro bem), lá pelos idos de 1961 ou 1962, com Dona Elza, que então morava, junto com sua irmã, próximo à Praça Argentina. Eu ia a casa delas umas duas vezes por semana para a aula e via o Victor lá de vez em quando. Victor era bem mais velho que eu, portanto não tinha relacionamento com ele. Sabia que ele tocava piano muito bem não só porque Dona Elza me dizia, como também porque certo dia ela pediu a ele para tocar para eu ver. Dona Elza me dizia também que lhe havia ensinado a tocar piano e que depois ele passou a estudar com professores mais avançados. Passados quatro anos de estudo de piano, Dona Elza me falou que, pelo que eu já tocava, deveria continuar os estudos com o Victor. Foi então que o passei a conhecer mais. Com ele eu estudei mais uns três anos. Ele já tinha cabelos grisalhos e ar de intelectual, aliás, era um intelectual na forma de se expressar e de se comportar, o que eu admirava. Até hoje me lembro das aulas que eram em uma espécie de água furtada na casa onde morava na Rua General Bruce, e onde ficava o piano e seus discos de piano e orquestra que várias vezes ele pôs para eu escutar em seu sofisticado (para aquela época) “aparelho de som”. Gostava tanto de ir naquele lugar que muitas vezes chegava bem mais cedo que a hora da aula para ficar curtindo a aura do recinto. Não me lembro porque parei de estudar piano; talvez porque precisasse estudar para passar no vestibular de Engenharia. Parei com as aulas e por isso me afastei do convívio com o Victor, que encontrava apenas uma vez ou outra nas ruas de São Cristóvão.

Com o passar dos anos, me casei, me mudei de São Cristóvão e perdi contato por completo com as pessoas, coisas e lugares da minha infância e juventude. Talvez por capricho do destino, nunca mais tive notícias dos meus dois professores de piano, a Dona Elza e o Victor, contudo, por capricho deste mesmo destino, encontrei o site-memória do Victor na internet há alguns dias atrás. Eu estava procurando o nome “Colégio Brasileiro de São Cristóvão”, em busca de meus colegas, e um dos poucos locais da internet que faz referência ao colégio onde estudei a maior parte da minha vida é o conto de Victor Giudice “A glória no São Cristóvão”. Só então soube com pesar da sua passagem e que ele havia se tornado escritor conceituado e conhecido em boa parte do mundo. Lendo o conto me vieram várias recordações do tempo em que freqüentei o clube São Cristóvão Imperial. As recordações não eram do ano de 1950, pois só nasci em 1951, mas a incrível estória do conto funcionou como catalisador das minhas próprias lembranças de São Cristóvão. Agradeço ao Victor e ao seu conto por esta verdadeira viagem ao passado e pela alegria que ela me proporcionou.

Jader Thomas


Conheci o Victor pessoalmente quando fui trabalhar na revista da Cacex no Rio. Tinha contato com ele através da literatura. Eu achava que já tinha conhecido as pessoas mais inteligentes e criativas do mundo, mas agora era diferente. Estava diante de uma incrível máquina de mil faces, um artista completo que me alegrou o dia-a-dia com uma performance inesgotável de situações e saídas mirabolantes. Um escritor, pintor, poeta, crítico, professor, fotógrafo, cozinheiro, sexólogo, ator e tudo o mais que se possa imaginar que um homem possa ser na vida. Menos bancário, ou até bancário quando contava casos engraçados ou muito tristes sobre antigos funcionários da Agência Centro do Banco do Brasil no Rio. Não vou falar sobre sua literatura, fantástica em todos os sentidos. E sim sobre alguém que passou pela vida e viveu-a como poucos. Um artista 24 horas por dia, ou mais se houvesse. Sinto muita saudade do Victor Giudice.

Joaquim Branco


Convivi com o Victor Giudice - o seu Victor, como respeitosamente o chamava - durante os anos de 1980 a 1984. Eu era menor-aprendiz do Banco do Brasil e estava lotado na CACEX, onde nosso saudoso amigo exercia a função de Assessor de Imprensa. Tive a felicidade de me reportar a ele, que fazia do cotidiano, uma rotina diferente e repleta de humor, uma de suas qualidades, entre tantas outras. Tenho em meu poder, até hoje, um resumo impresso em formato gigante (tipo pôster) de “O Arquivo” devidamente autografado e uma foto tirada pelo próprio seu Victor (era um exímio fotógrafo, ainda que amador), na qual eu e
dois outros colegas de trabalho fomos surpreendidos pela sua lente e presenteados com a mesma depois de revelada. Foram poucos os anos de convívio, porém o suficiente, para aprender os ensinamentos e seguir os conselhos daquele humanitário. Era aprendiz do Banco do Brasil, mas foi com o seu Victor que aprendi de verdade!

Roberto de Moura - Nilópolis - RJ


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