Victor Marino del Giudice nasceu em Niterói, no dia 14 de fevereiro de 1934. Seus pais eram artesãos: Marino Francisco del Giudice, de origem italiana, fabricava chapéus enquanto ainda se usavam chapéus; Dona Mariannalia del Giudice, católica, era exímia bordadeira, com suas mãos "barrocas" de "fada branquíssima", como o filho a descreveria (ou fantasiaria) no conto Minha mãe. A maneira como se referia aos pais pela ausência, presente também no conto A única vez, este sobre o pai, só faz enfatizar a importância da tia Elza, professora de piano com quem o pequeno Victor convivia mais intensamente e a quem chamava de "mãe".
Quando Victor tinha cinco anos, a família mudou-se para o bairro de São Cristóvão, no Rio, que se tornaria seu "país" ficcional e referência de origem para sempre. "Quando se nasce e se cresce em São Cristóvão, logo se aprende que em São Cristóvão todas as coisas são de São Cristóvão", diria o personagem semi-autobiográfico do seu conto A glória no São Cristóvão. Victor foi um menino popular, que magnetizava os colegas de rua com suas histórias. Começou, portanto, a se desenvolver na infância uma das facetas mais sedutoras de sua personalidade carismática. Com as astúcias de um legítimo entertainer, que mistura lembrança e invenção de maneira indistinguível, ele enredou pela vida afora todos os que cruzaram seu caminho.